O ano de 2020 vem trazendo diversos novos desafios para o sistema educacional brasileiro devido a pandemia do COVID – 19 e, em consequência, as recomendações de isolamento social. Com isso, aulas presenciais foram suspensas no país inteiro, atingindo estudantes desde a educação infantil até a universidade. Dentro de uma cultura de imediatismo, a solução para o problema foi simples e direta: ensino a distância. As famosas aulas EAD foram propostas pela maioria das escolas e universidades, criando assim uma situação onde os alunos não perderiam horas e excluindo a necessidade de adiamentos de semestres ou, até mesmo, de anos inteiros. Entretanto, fazendo uma análise mais aprofundada do que uma imposição de EAD significa, percebemos um acento em problemas pré-existentes no Brasil; tornando gritante a desigualdade social existente e a desvalorização dos profissionais da educação.
Aprofundando a questão da desigualdade social em relação as propostas educacionais, percebe-se que – desde muito antes da pandemia – o acesso a ensino de qualidade é extremamente desigual no Brasil. Sempre houve enormes discrepâncias entre estudantes de escola pública e privada ou, até mesmo, de escolas centrais e periféricas; essa diferença fica bastante clara ao analisar-se o ambiente universitário que é majoritariamente composto por alunos de alta renda (exceto por universidades federais) e brancos (cerca de 67%). No momento atual, educação a distância se mostra como um agravante para a desigualdade social, já que alunos que anteriormente sofriam injustiças dentro do ambiente de ensino, passam a ser totalmente excluídos das aulas. Essa exclusão acontece, diretamente, por dificuldades em acesso à internet (mais de 30% dos brasileiros não possuem conexão) ou pela falta de computador (45,5% dos brasileiros não tem computador em suas casas). Além da falta de recursos, deve ser levado em consideração o ambiente familiar que a maioria dos estudantes vivem; a superlotação de casas, não possuindo um cômodo para o aluno estudar e até mesmo o estresse das famílias que, durante a crise causada pelo corona vírus, precisam achar outras fontes de renda. Em suma, fica esclarecido que optar por prática de EAD exclui grande parte dos estudantes brasileiros que dependem da educação para mudar o curso de suas vidas.
Em segunda análise, o imediatismo no qual foi imposto aulas online não levou em consideração a perda de qualidade do ensino mesmo para os estudantes que tem fácil acesso ao conteúdo disponibilizado. As aulas de ensino fundamental e médio e também as de graduação, inicialmente planejadas para acontecer presencialmente possuem currículos impossíveis de serem transportados para um modelo a distância tão rapidamente, sem nenhuma modificação ou questionamento. Muitos conteúdos precisam ser trabalhados em sala de aula para poderem ser absorvidos pelos estudantes de forma satisfatória. Ademais, ministrar aulas online não é uma atividade dominada por todos os docentes. Essa profissão vem sofrendo com uma constante desvalorização tanto pessoal quanto salarial que impossibilitou a formação de professores sempre atualizados e preparados; logo, é impossível manter a qualidade do ensino em um ambiente virtual completamente desconhecido para a maioria dos docentes. Pesquisas mostram que 83% dos professores brasileiros não se sentem preparados para educar a distância, então é evidente que a decisão por impor uma EAD não levou em consideração as necessidades dos personagens mais importantes dentro de um ambiente educacional: a dos docentes e dos discentes.
Portanto, fica claro que a educação no Brasil possui vários desafios a serem enfrentados até alcançar um parâmetro onde uma implementação totalmente tecnológica, como é a educação a distância, seja possível de forma igualitária e de qualidade. Não há sentido em propor qualquer projeto que não corrija os problemas sempre existentes dentro do ambiente de ensino: desigualdade e despreparo. No momento, o melhor há se fazer é pensar em futuros delineamentos que pensem em uma inserção da tecnológica dentro da aula presencial, tornando a tecnologia mais familiar para alunos e professores e, então sim, conseguir uma implementação de EAD em alguns âmbitos educacionais. Somado a isso, é essencial sempre levar em consideração a sociedade desigual que o país possui, porque os recursos – como internet e computador – são essenciais para os estudantes terem um aprendizado satisfatório. Assim e, somente assim, seria aceitável e desejável o uso de ensino a distância tanto em situações caóticas e excepcionais, como está sendo a pandemia de COVID – 19, quanto em aprimoramentos do ensino dentro de uma normalidade.
Colunista da Aplitech Foundation
Amanda Zamboni – Graduanda em Letras – Língua Portuguesa e suas Literaturas pela Universidade Federal de Santa Catarina e aspirante a profissional da educação. Defensora da educação acessível e de qualidade como principal ferramenta de mudança.