Em outro texto neste espaço, argumentei que o nível de competitividade de um país no mercado internacional é determinado, em larga medida, pelo nível da produtividade geral do trabalho que vigora em sua economia. Dada a importância desse tema tanto para o desenvolvimento, de maneira geral, quanto para o momento de lenta recuperação da atividade econômica no Brasil, de maneira específica, parece oportuno voltar ao tema.
Em linguagem matemática, a competitividade é uma função da produtividade – o que quer dizer que, para que determinado país seja mais competitivo no mercado internacional, sua força de trabalho precisa ser mais produtiva. O economista norte- americano Paul Krugman, laureado com o prêmio Nobel em 2008, sintetizou a importância da produtividade para o desenvolvimento dos países em um frase de rara precisão:
“Produtividade não é tudo, mas, a longo prazo, é quase tudo. A capacidade de um país para melhorar seu padrão de vida ao longo do tempo depende quase inteiramente de sua capacidade de aumentar sua produção por trabalhador” (Krugman 1997, p. 11)
A produtividade do trabalho, por sua vez, está estreitamente relacionada com três tipos de capital: físico, humano e financeiro. O primeiro deles se refere a coisas como a disponibilidade de máquinas e equipamentos modernos; e a rodovias e ferrovias em quantidade e qualidade satisfatórias para a circulação e escoamento de produtos e serviços. O segundo tipo de capital, por sua vez, diz respeito aos conhecimentos, competências e habilidades que os trabalhadores de determinado país possuem. Por fim, o capital financeiro tem a ver com a oferta adequada de dinheiro para que os empreendedores do país possam financiar seus empreendimentos e também ter capital de giro.
E o Brasil?
Lamentavelmente, a produtividade do trabalho por aqui está estagnada desde a década 1980. Nesse sentido, se considerarmos a cronologia utilizada por Barbosa Filho e Samuel Pessôa 2 temos os seguintes números: no período 1982-1992 a produtividade nacional regrediu à taxa de -0,6% ao ano; no período 1992-2002, evoluiu à taxa anual de 0,8%; já no período seguinte, nova evolução, desta vez à 1,7% ao ano 3 .
Ainda que tenha havido algum avanço no período, é possível dizer que a produtividade nacional esteve estagnada no período porque a taxa de evolução foi inferior àquelas observadas em países desenvolvidos – algo entre 2% e 3% ao ano. Dessa forma, seguimos nos distanciando da chamada fronteira tecnológica 4 .
Para piorar, esse cenário foi agravado pelo recente período recessivo que atingiu a economia nacional (2014-2016) e pelo lento processo de retomada da atividade econômica que se observa desde então. Como consequência, a produtividade de um trabalhador brasileiro atualmente corresponde a um quarto da de um norte-americano ou a um terço da de um sul-coreano 5
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1 Krugman, P. 1997. The Age of Diminished Expectations: U.S. Economic Policy in the 1990s. Cambridge: The MIT Press.
2 Barbosa Filho, F.; Pessôa, S. 2014. Pessoal Ocupado e Jornada de Trabalho: Uma Releitura da Evolução da Produtividade no Brasil. Revista Brasileira de Economia, 68 (2), p. 149-169.
3 Esses números convergem com a estimativa do McKinsey Global Institute, segundo quem a evolução da produtividade brasileira para o período 1990-2012 foi de 1,02% ao ano.
4 Nível de desenvolvimento tecnológico no qual operam os países desenvolvidos.
Em suma, o Brasil precisa urgentemente expandir os níveis de produtividade de sua força de trabalho – se quiser voltar a crescer a taxas satisfatórias e de forma sustentada – o que implica na necessidade de trabalhar por avanços significativos nos três tipos de capital referidos acima.
Seguir por esse caminho, por sua vez, envolve tanto medidas de longo prazo e que dependem de ações do poder público, como melhorias na infraestrutura e na educação básica; quanto medidas mais imediatas e que dependem de decisões individuais – como atualizar conhecimentos, desenvolver uma nova habilidade ou aprender um novo idioma.
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5.Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2019/03/19/brasil-baixa-produtividade-competitividade-comparacao-outros-paises.htm
Imagem de Gerd Altmann por Pixabay
Colunista da Aplitech Foundation
Wellington Nunes
Cientista político. Atualmente participa de um programa de pós-doutoramento na Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde atua como professor e pesquisador.