Começamos a série “Professores” onde convidamos diversos professores universitários do país, para que compartilhem sua visão e conceitos sobre a relação da tecnologia com a educação.
A primeira convidada é a Profa. Dra. Silvia Gasparian Colello
(Pedagoga, Mestra, Doutora e Livre-docente pela Faculdade de Educação da USP, atuando como professora, orientadora e pesquisadora dessa mesma instituição – silviacolello@usp.br silviacolello.com.br)
Guest Post
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Entre os apelos da sociedade tecnológica e o desafio de alfabetizar
Indiscutivelmente, os avanços na área da comunicação, as possibilidades geradas pelo uso da informática e os apelos da sociedade tecnológica transformaram os modos de relação social, o acesso à informação e as formas de trabalho. Vivemos em uma época de rápidas mudanças o que necessariamente remete à revisão das práticas educacionais. Afinal, como preparar o homem de hoje para a sociedade do amanhã? Como a tecnologia afeta o processo de aprendizagem?
No caso específico do ensino da língua escrita, a emergência desses questionamentos aponta para implicações que, à luz das novas tecnologias, tornam mais ou menos evidente a necessidade de se transformar a escola.
Em uma perspectiva mais evidente (porque mais próxima do senso comum e dos princípios básicos da educação), parece óbvio que a escola deva ajustar-se aos recursos de seu tempo. Como a língua escrita é uma construção cultural que se concretiza em práticas socialmente definidas e em modalidades de uso contextualizadas, aprender a ler e a escrever faz sentido na medida em que puder se articular ao esforço de aproximar o aluno das tecnologias de comunicação e acesso ao saber. A despeito da legitimidade desse princípio, o letramento digital não se conquista apenas com a entrada dos computadores na escola nem com a inserção de aulas de informática na grade curricular. O desafio está em poder se apropriar das novas formas de ler e escrever, buscando o ajustamento qualitativo em práticas sociais tantas vezes inusitadas para os próprios educadores. Em certo sentido, precisamos ensinar aquilo que também temos que aprender.
Em perspectivas menos evidentes (porque mais técnicas e divergentes de concepções arraigadas no ensino da língua), as novas tecnologias induzem à recolocação de questões clássicas tais como “o que ensinamos quando ensinamos alguém a ler e a escrever?” e “como e por que ensinamos a ler e a escrever?”. No que diz respeito à natureza da língua, as atuais práticas de leitura e escrita – que circulam em caminhos imprevisíveis criados e recriados pelo sujeito no livre trânsito entre “links” e “sites” da internet, “janelas” do computador ou por recursos do “recortar e colar”, “inserir e deletar” – rompem definitivamente com a falsa convicção de que a escrita se processa linearmente pela sucessão de palavras, linhas ou páginas. Nas práticas pedagógicas, a explosão dos recursos comunicativos torna obsoleto o ensino fechado em si mesmo, isto é, a escrita descontextualizada e artificialmente moldada para fins didáticos. Definitivamente o BA, BE, BI não tem mais lugar no mundo de hoje! Finalmente, as demandas do nosso mundo chamam a atenção para o fato de que estar alfabetizado no âmbito escolar não necessariamente garante estar apto à participação social.
Em síntese, parece que quanto mais exigente for a sociedade tecnológica, mais se fortalecem as demandas educacionais e a necessidade de compromisso dos educadores com a construção da sociedade democrática. Reconfigurando o que antes aparecia como meta estritamente escolar, a alfabetização renova seu significado político pelo compromisso de constituição do homem, favorecendo-lhe possibilidades de expressão, interpretação, compreensão, escolha e criação. Paradoxalmente, no plano educacional, ajustar-se à modernidade implica em poder resgatar os sentidos mais antigos do aprender a escrever: o direito à palavra, a ampliação dos recursos comunicativos e das possibilidades de inserção social.
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